A imprensa internacional tem-se desdobrado a tentar desvendar a razão pela qual Portugal tem sido a “exceção” latina no sucesso ao combate ao covid-19. Noção do perigo e medidas atempadas são as conclusões a que chegaram.
“Neste país com profundas raízes católicas, a entrada nas celebrações da Páscoa não altera o rigoroso confinamento respeitado pelos portugueses desde a introdução do estado de emergência a 18 de abril”, é assim que o jornal suíço Le Temps começa um artigo que dá nota da “exceção feliz” que Portugal tem sido por comparação com a vizinha Espanha, um dos países mais afetados pelo covid-19 do mundo.
Tal como vários meios de comunicação social fizeram nos últimos dias, entre os quais o alemão Der Spiegel, este jornal relembra que o nosso país é o mais isolado geograficamente e que só teve casos do novo coronavírus importados de Itália e de Espanha e não por via direta da China. Além disso, o Le Temps reforça a ideia que o país aprendeu com o que se estava a passar nos vizinhos e protegeu-se rapidamente.
Em declarações a esta publicação, a diretora executiva do DN, Catarina Carvalho afirmou que a chave do sucesso foi “a rigorosa disciplina observada pela população”. Ao que o jornalista João Miguel Tavares acrescentou: “Quando as autoridades nos pediram para ficar em casa, já estávamos todos em casa!”
Estado de emergência com rapidez
Os media internacionais – como o RTBF, o site da Radio Televisão franco-belga, ou a rádio francesa France Inter – enfatizam muito o facto de o estado de emergência, cuja decisão é sempre atribuída ao governo e não ao Presidente da República, ter sido decretado ainda o país tinha apenas 100 casos de infeção. Mas tal como menciona o Le Temps. A autodisciplina dos portugueses foi muito importante e “muitas escolas estavam já sem alunos antes de serem encerradas”, e o mesmo aconteceu a lojas devido à falta de clientes.
“O primeiro-ministro socialista António Costa logo entendeu que quanto mais durasse a crise da saúde, mais dramático seria o impacto no turismo, um setor essencial para a economia portuguesa. Ele, portanto, optou por tomar medidas radicais num estado ainda inicial, para sair dessa situação de contenção o mais rápido possível e para reiniciar o turismo o mais rápido possível”, escreve o Le Temps.
A France Inter dedica-se também a analisar o comportamento social português e sublinha que enquanto Espanha, tão fustigada, tem medidas de confinamento muito restritivas, os portugueses também o estão mas sem sanções ou necessidade de haver certificados de viagem. E cita António Costa: “Os portugueses são tão disciplinados que a repressão é inútil”.
Coesão da esquerda e saída da austeridade
A France Inter ensaia ainda uma explicação política para o sucesso nacional no combate a esta pandemia, em relação aos espanhóis. Diz que há uma coligação de esquerda no poder desde 2015, embora neste momento não exista nenhum acordo formal entre o PS e o PCP e o BE, enquanto em Espanha ocorreram quatro eleições gerais, o governo é atualmente de coligação entre PSOE e Unidas Podemos, e tem ainda lidar com uma crise institucional na Catalunha.
A rádio reforça ainda a ideia de que Portugal emergiu da austeridade muito antes e com sucesso, com menos austeridade e menos cortes na saúde. Portanto, conclui, é “um país melhor preparado”.
Talvez isso explique uma das medidas mais elogiadas pela imprensa internacional, como a americana CNN e o espanhol El País que foi a da regularização de todos os imigrantes e requerentes de asilo, concedendo-lhes acesso total aos cuidados de saúde do país, à medida que o surto de coronavírus aumentava.
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